A Torre Negra: Quando o Livro Vai Longe Demais… Ou Não

A Torre Negra, dirigido pelo dinamarquês Nikolaj Arcel, mais conhecido por seu trabalho como roteirista em Millennium: Os homens que não amavam as mulheres, traz um filme que sofre por falta de estrutura e uma relação não muito feliz com o livro de mesmo título do escritor Stephen King. Enquanto os críticos de cinema menosprezam o filme com 18% de críticas positivas no site Rotten Tomatoes, o público geral deu 61 por cento de aprovação, não o bastante para salvar o filme que prometia criar a mesma empolgação de franquias de fantasia e ficção científica. Além disso, a grande diferença na aceitação revela a falta de coerência interna da produção.

O livro de King parecia perfeito para o público atual. Com uma mistura de gêneros como terror, fantasia, velho oeste e ficção científica, e contando com uma série de 8 livros de sucesso, King conta a história de um mundo mágico protegido por um grupo com ideais parecidos com aqueles da lenda do rei Arthur, onde a nobreza e a coragem são valorizadas. Este universo, porém, diferentemente dos tempos medievais do rei Arthur, se parece muito com o velho oeste norte-americano. O personagem principal, Roland Deschain, foi inspirado nos personagens de pouca fala de Clint Eastwood. É uma figura cativante chamada de Gunslinger, que usa seu revolver de maneira impressionante e não desiste nunca até alcançar seu objetivo de derrotar forças malignas, deixando emoções pessoais de lado para salvar a todos.

O filme expõe várias características do livro e assume que o espectador entenderá do que se trata. Termos como “house demon” ou “Crimson King” aparecem no filme e nunca são explicados. Em um cinema onde todos os longas são remakes ou baseados em livros famosos, talvez A Torre Negra tenha ido longe demais na crença de que o público entenderá o filme por conta da obra.

Porém, o oposto também é verdade, A Torre Negra muda tanto o livro a ponto de mudar, também, quem é o personagem principal. Com a possível tentativa de tomar como público-alvo famílias e crianças, o personagem principal acaba sendo Jake Chambers, interpretado por Tom Taylor, um jovem adolescente que descobre ter poderes mágicos e que ajuda Roland, interpretado por Idris Elba, em sua busca para derrotar o inimigo. Jake, que acaba de conhecer o mundo de Roland, acaba se tornando o guia espiritual de um herói que duvida de si mesmo. Enquanto é possível se identificar e gostar de Jake, ele claramente não tem o mesmo charme de Roland, e a escolha de colocá-lo como personagem principal frente a um personagem muito mais interessante mostra-se uma escolha infeliz.

Há, porém, pontos positivos no filme. Cenas onde o mundo criado por King afeta o planeta Terra foram bem desenvolvidas e dão urgência a história, tornando o longa mais empolgante. A atuação de Idris, que muitas vezes faz o personagem de Roland parecer um peixe fora d’água, produzem cenas comoventes e ainda mesmo cômicas. Mesmo assim, a falta de harmonia em relação ao livro, onde por vezes assume que o público conhece a obra de mão beijada e por outras toma a liberdade até mesmo de mudar quem é o personagem principal, não permitem que o filme seja o primeiro de uma franquia de grande sucesso.

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