Annabelle 2: A Criação do Mal, do diretor David S. Sandberg, é o quarto filme da franquia de The Conjuring, produzido por James Wan, que foi o produtor de, nada mais, nada menos, que Saw. Portanto, até mesmo filmes de horror agora contam com franquias que prometem expandir e criar universos tão ricos como aqueles da Marvel ou da D.C. Enquanto esta criação rápida de franquias muitas vezes geram filmes batidos e sem vida, o mesmo não pode ser dito de Annabelle.
Com uma fotografia impecável, o filme de horror volta a trazer aquele tipo de horror mais direto, que não precisa de nada mais do que visuais que por si só assustam. Sandberg também consegue atrasar os sustos de maneira muito bem-sucedida e original. Enquanto a maior parte de filmes de horror simplesmente atrasam o susto com conversas bobas e com música de suspense, Annabelle 2 faz isto enquanto desenvolve seus personagens, mostrando, entre outras coisas, a família de Annabelle.
Esta feliz família, com um pai fazedor de bonecos e uma mãe dona de casa, tinha Annabelle, sua filha, como o centro do universo. Porém, quando um acidente leva sua filha, eventos macabros começam a tomar conta do enredo. Tal contradição entre uma família aparentemente feliz, mas que tem um destino terrível também aparece na fotografia do filme, que mostra paisagens bonitas e de tirar o fôlego assim como cenários assombrosos.
Muitos filmes de horror trazem este choque entre felicidade e tristeza, pureza e maldade. Por exemplo, O Iluminado, filme dirigido por Stanley Kubrick, também mostra paisagens e locais bonitos que depois são contrastados com um hotel macabro mal-assombrado. Porém, na maior parte destes filmes, aqueles que são puros de coração, como crianças, conseguem sobreviver aos monstros e as entidades mais maléficas.
Annabelle 2 vai além e não nos dá nenhuma indicação de que alguém poderá sobreviver a entidade que aparenta ter uma relação simbiótica com uma das bonecas criadas pelo artesão. Em uma indústria cinematográfica que está acostumada com seriados de televisão como Game of Thrones, onde qualquer personagem, por mais honrado e popular que seja, pode morrer a qualquer instante, Annabelle 2 cai como uma luva.
Tal característica deixa o suspense, e o horror, mais elevado. Se no passado podíamos adivinhar quem seria a vítima (geralmente garotas adolescentes explorando sua sexualidade e que tem namorados que não acreditam em histórias de horror), agora qualquer um está em perigo. É como se o monstro deixasse de atacar os imorais primeiro e praticamente virasse uma roleta russa, tornando vítima qualquer um que deseja.
Por isso, quando o filme mostra meninas espertas, e até mesmo com problemas físicos, o público torce mais para que Annabelle as deixe em paz, criando uma identificação com as personagens que não é geralmente vista em filmes de horror e, consequentemente, mais suspense e terror. Em Annabelle 2, o horror não tem limites.