O Touro Ferdinando é baseado no conto infantil de 1936 “The Story of Ferdinand”, do escritor americano Munro Leaf e ilustrador Robert Lawson. No conto, um bezerro chamado Ferdinando é completamente obcecado pelo cheiro das flores. Embora sua mãe tente convencê-lo de lutar com outros em seu pasto para que se torne forte e ganhe fama em uma tourada, ele não lhe dá a mínima atenção.
Anos depois, Ferdinando cresce um animal forte que ainda devota toda a sua atenção a sua atividade preferida. Porém, ele senta em uma abelha e a dor o faz correr tão rápido que os toureiros acreditam ter achado o touro agressivo que procuram. Quando colocado na arena, entretanto, o animal apenas faz aquilo que sempre fez. A história termina com o toureiro chorando por não conseguir fazer o touro lutar e Ferdinando voltando ao seu antigo pasto, para suas flores.
O conto fez tanto sucesso que foi comparado a histórias infantis como O Ursinho Puff. Além disso, foi proibido em muitos países ditatoriais em meio a Segunda Guerra Mundial, por ser considerada uma obra pacifista. Ferdinando ficou tão famoso que a Disney lhe deu vida com um desenho que foi distribuído no mundo inteiro e até ganhou o Oscar em 1938.
Agora, mais de 80 anos depois que a história foi concebida, o famoso animal está de volta com O Touro Ferdinando, produzido pela Blue Sky Studios, a mesma empresa de animação por traz da franquia A Era do Gelo. Embora contenha muitos elementos do livro e faça algumas referências à obra da Disney, com cenários muito parecidos, o filme muda bastante o personagem. O roteiro é confuso e dilui a história original em personagens novos e piadas.
Enquanto o Ferdinando original é movido por emoções e ignora completamente o mundo ao seu redor, o novo é o animal mais inteligente do rebanho. O problema é que, para um bezerro tão esperto, cheirar flores não parece ser a atividade que mais combina com seu intelecto. Por causa disso, embora o filme comece mostrando a paixão pelas flores (mais por sua existência do que pelo seu cheiro), logo aparecem dezenas de outros personagens. As flores são esquecidas durante a maior parte do filme, deixando confuso qual o objetivo do personagem principal.
Mesmo assim, a animação tem algumas cenas emocionantes. Diferentemente do livro, o jovem Ferdinando perde seu pai em uma tourada. As cenas seguintes são tristes e dramáticas. Porém, depois de um minuto se dissipam como as flores: Ferdinando encontra outro pasto na qual conhece novos personagens. Esta troca de cenários e personagens acontece bastante. Todas estas mudanças tornam a história confusa até que Ferdinando, assim como no livro, acaba enfrentando o toureiro.
No final, o filme volta a lidar com a morte de seu pai e sua infância perdida. Mas aí está tarde demais. O que resta são piadas com personagens sem muita personalidade e que dançam ao ritmo de músicas populares apenas com o propósito de serem engraçados. Pode ser que a comédia era a única coisa que o estúdio queria. Mas, então, por que nos mostra um enredo emocionante com um touro que perde seu pai logo no começo do filme?