Woody Allen mais uma vez nos traz aquele tipo de história que há tempos somente ele parece ter a capacidade ou o desejo de contar, com personagens e cenários excêntricos dos anos 50, cheio de complexidades, metáforas, conflitos e, como sempre, um tom de humor. Roda Gigante também é marcado pela participação da Amazon em sua produção.
A fotografia do filme conta com o talento de Vittorio Storaro, que foi o responsável pelas belas imagens de produções como Apocalipse Now, O Último Imperador e ainda Último Tango em Paris, fazendo com que Roda Gigante seja um dos filmes mais belos tecnicamente. Além disso, Allen permite que a fotografia seja muitas vezes parecida com as obras de Bernardo Bertolucci, que sempre trabalhou com Storaro. Este tipo de homenagem a títulos distantes dá complexidade pra produção presente, que mistura estilos de diferentes épocas da carreira de Allen.
Para o público acostumado com produções que tentam chegar perto da realidade em sua linguagem cinematográfica, Roda Gigante irá parecer teatral, como se o diretor tivesse abandonado o cinema atual para voltar no tempo quando o teatro ainda influenciava o cinema. Além disso, o tipo de enredo lembra um Woody Allen de antigamente, aquele de A Rosa Púrpura do Cairo, por exemplo. Este aspecto é reforçado pelo cenário imaginativo do filme, onde a personagem principal Ginny, interpretada por Kate Winslet, vive. A personagem é uma ex-atriz e atual garçonete em busca de algo mais. É casada com Humpty (Jim Belushi), um homem que parece vindo da máfia italiana dos anos 50 e que trabalha no parque de diversões que serve como pano de fundo para a realidade do casal. A roda gigante do parque, título do longa, é o que Ginny enxerga de sua casa, bloqueando sua visão para o algo mais que quer encontrar em sua vida.
A diferença entre Ginny e seu marido naturalmente faz Roda Gigante caminhar a um enredo muito familiar do diretor: aquele do triângulo amoroso. Não amando seu marido, ela conhece e se apaixona por Mickey (Justin Timberlake), um salva vidas que aspira ser dramaturgo. Sua profissão e aspirações caem como uma luva com os desejos-por-algo-mais de Ginny. Além disso, ele não poderia ser mais diferente de seu marido. Mickey também ganha um papel especial no longa, já que o personagem fala diretamente com a câmera e tem trejeitos que lembram aqueles do próprio Woody Allen, dando ao público um ponto de vista específico para entendermos o filme.
O triângulo amoroso se forma de maneira definitiva quando Carolina (Juno Temple), uma filha afasta do primeiro casamento de Humpty, vai ao encontro do pai para pedir abrigo e um lugar para se esconder da máfia que seu ex-namorado pertence (já que, possivelmente, foi testemunha de um crime). Assim, ela começa a trabalhar como garçonete ao lado de Ginny. O problema é quando Mickey a encontra, ele rapidamente esquece de seus sentimentos por Ginny e se apaixona por Carolina. Toda a vulnerabilidade e complexidade que fizeram com que Mickey se interessasse pela uma mulher casada se dissipam na nova paixão com a jovem.
Cheio de metáforas e com uma fotografia vibrante, o filme não é um que se encaixe muito bem no tipo de produção que esperamos de um Woody Allen dos anos 2000. Porém, embora uma produtora nova como a Amazon esteja por trás de Roda Gigante, seus personagens nos apontam para um Woody Allen antigo e que alguns espectadores já haviam esquecido.