Estreou nesta semana o filme Canção a Canção, de Terrence Malick. O diretor, que é conhecido por seu estilo poético e filosófico, ficou famoso com obras como The Thin Red Line. Trazendo produções fragmentadas, sem uma linha temporal constante, e sem uma estrutura fácil, seus filmes trazem polêmica e diferenças de opinião. Mesmo assim, com visuais incríveis, o diretor sempre consegue explorar aquilo que o cinema mainstream geralmente ignora. Canção a Canção, porém, não parece ter a força de seus filmes anteriores, tratando de temas e histórias já batidas que não nos levam a lugares muito originais.
Com uma história de amor e poder partida onde cenas importantes são picotadas e aparecem invariavelmente durante o filme, o que é constante são os personagens. Com o universo da música pop como pano de fundo, somos primeiro introduzidos a Faye, interpretada por Rooney Mara, uma garota em busca não somente do amor, mas da própria vida, que acredita não sentir nada real. Embora Faye pareça amar BV, interpretado por Ryan Gosling, um cantor com grande potencial, ela acaba traindo-o com Cook, um rico e atrevido empresário musical que agressivamente tenta dar mais sal a sua vida já entediante.
Este triângulo amoroso no ramo da música, onde uma garota fica entre um homem mais sensível e um mais esperto e “pé-no-chão”, já foi explorado várias vezes em diversos outros títulos, e já faz parte do nosso imaginário em relação ao universo musical. O fato de Malick dar ao filme sua assinatura com cenas interrompidas e contemplativas não ajudam a mitigar o fato de que a produção pode soar para o público como um clichê de 130 minutos.
Utilizando técnicas de câmera, edição e som para que o público se sinta dentro da cabeça de um personagem, ou pelo menos entenda suas motivações e pensamentos, o resultado é o oposto – o espectador parece ficar inepto a entrar na história dos personagens de modo mais emocional. Por exemplo, câmeras com lentes grande-angulares distorcem a cena e tem o intuito de nos colocar no tipo de sofrimento e confusão vividos pelos personagens. Porém, isto faz com o filme seja visto como que por meio de um olho mágico, onde uma porta nunca nos deixa aproximar destes personagens.
Com um resultado parecido, o constante uso de voice-over mostra de modo fácil o que os personagens estão pensando, mas sua forma fortemente estilizada, onde todos parecem sussurrar a todo momento, tira qualquer chance de acreditarmos nas vozes destes personagens. Até mesmo as várias cenas de improvisação parecem ter este efeito. Se nos filmes passados do diretor, estes tipos de cena davam vida à história por torná-la próxima ao dia-a-dia de qualquer um, em Canção a Canção, a improvisação parece falsa e exagerada.
Pode-se acreditar que o intuito desta fragmentação neste filme seja o de criar o que a personagem Faye expressa desejar no começo do filme, ou seja, um relacionamento no presente, de Canção a Canção, de “beijo em beijo”. Embora o filme pareça acontecer deste modo, o fato de já conhecermos o enredo muito bem não nos dá nada muito original. Contando até mesmo com grandes atrizes como Natalie Portman e Cate Blanchett para apimentar a vida amorosa dos personagens principais, o filme parece perder o folego desde o inicio.