No dia 19 de Maio, o filme Okja, do diretor Bong Joon-ho, estreava no importante festival de Cannes. O longa, distribuído pela Netflix, deu bastante o que falar sobre questões ambientais em relação ao tratamento de animais a serem abatidos. Porém, o que é mais interessante é que a estratégia tomada por Joon-ho para que o público sentisse o desespero destes seres foi a criação de um novo tipo de criatura, que no filme é chamada de super-porco. Com efeitos especiais de última geração e criatividade única, tal escolha foi muito feliz. Não só o porco, Okja, ficou famoso, mas também roubou a atenção dada a inúmeros atores famosos, como Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, com papéis na produção.
O filme conta a história do relacionamento entre Mija, uma garota que vive na parte rural da Coréia do Sul, interpretada por Seo-hyun Ahn, e Okja. O começo da relação entre os dois já é bastante controverso. Okja foi parte de uma iniciativa e criação científica da companhia Mirando Corporation. Vinte e seis amostras de filhotes do gigantesco animal foram então distribuídas pelo mundo, para que anos depois uma campanha de marketing coroasse apenas um vencedor (o que, no filme, significa o maior deles).
Infelizmente para Mija, Okja vence a infeliz competição. Seu avô o troca por ouro já que não pode compra-lo. Vendo isso como uma traição ao seu animal favorito e amigo, Mija decide então ir atrás do porco, em uma missão perigosa que conta com mal entendidos e traição. Porém, na sua tentativa de resgatar a criatura, Mija percebe que ele não é o único a ser tratado desumanamente – sendo apenas um entre milhares de outros super-porcos.
Em um filme que começa como comédia e termina como drama, uma das únicas constantes é o carisma de Okja. O fato do extrovertido animal ter sido completamente criado por computador, algo que geralmente dá ao personagem um tom mais frio, impressiona não somente por parecer real, mas justamente por fazer com que o ser pareça acolhedor e amigo. Esquecemos que se trata de um efeito visual e torcemos por Okja mais do que para qualquer outro personagem. Mas como isto foi feito?
Erik-Jan de Boer, responsável pelos efeitos visuais do filme, e que conta com a estatueta do Oscar pelo seu trabalho no filme A Vida de Pi, foi essencial para o sucesso de Okja. Embora o diretor da produção já tinha um esboço de como o porco pareceria, Boer conseguiu adicionar elementos da natureza para deixar Okja, que é uma mistura de elefante, hipopótamo e porco, mais natural. Para começar, o que deixa o relacionamento entre Mija e Okja autêntico é o fato da pele do animal ser tão bem pensada. Com medo de parecer plástico, foram adicionados pequenos pelos na pele, com um design específico e uma tentativa de Boer para dar a Okja um toque feminino. Assim, quando mija toca Okja, podemos adivinhar como a menina sente a pele do animal. Isto também nos deixa inquietos quando alguém machuca a criatura.
Porém, o que mais deu a Okja seu carisma foi sua face. Acreditando que o esboço de Joon-ho deixava o animal parecendo desenho, foi usada a referência de um outro animal: o melhor amigo do homem – o cachorro. Não é à toa que nos identificamos tanto com o híbrido e torcemos para ele sobreviver. É então graças ao nosso canino favorito que Okja conseguiu conquistar corações e se tornar o filme polêmico de hoje.