Projeto Flórida

Se fazer filmes com crianças de classe média que vivem grandes aventuras – muitas vezes perigosas – está na moda, Projeto Flórida mostra o outro lado destas jornadas. Diferentemente de Stranger Things e It – A Coisa, a diversão dos jovens de Projeto Flórida é uma que impossibilita a imaginação infantil de se concretizar na tela, ficando apenas na mente de meninos e meninas. Isto porque, rodeadas pelo clima pobre da região onde vivem, contam apenas com atividades banais, e muitas vezes perigosas, como entretenimento.

O longa é dirigido por Sean Baker, conhecido por Tangerine, produção de 2015 que foi filmada completamente com Iphones 5S, em diversos aparelhos. Também como Projeto Flórida, Tangerine se foca em conflitos e dramas gerados pela pobreza. O sucesso da antiga produção gerou expectativa em relação a este novo filme de Baker.

Projeto Flórida conta a história de Moonee, interpretada por Brooklynn Prince, uma menina de seis anos de idade que vive com Halley, interpretada por Bria Vinaite, sua jovem mãe rebelde e divorciada. Elas vivem em um hotel de classe baixa chamado Magic Castle – uma referência ao castelo mágico da Disneyworld, o famoso parque que é localizado bem perto do hotel.

O gerente de Magic Castle, Bobby, é interpretado por Willem Dafoe, o único ator de nome no filme. Embora este tenha uma aparência dura, ele sempre está disposto a ajudar os residentes do hotel (especialmente quando, perante as regras do lugar, é proibido usar o Magic Castle como moradia, mesmo quando Halley e sua filha não tem onde morar).

Tudo fica ainda mais complicado quando percebemos que Halley não acredita em disciplina, nunca tentando educar sua filha. Porém, Baker não a culpa e deixa a entender que Halley é vitima de sua própria condição financeira. Isto não quer dizer que as ações da mãe e da filha não podem ir longe demais.

Imagine uma criança que não tem medo de autoridade, pois Halley a defende de qualquer bronca dada por terceiros, e que está livre para fazer o que quiser. As ações de Moonee acabam não somente fazendo todos se afastarem das protagonistas, mas também deixa Halley mais rebelde do que ela já é. Mas é assim, então, que percebemos que Halley, embora mãe, ainda é uma criança, uma que não teve oportunidade para crescer.

Com atuações incríveis e melhores do que muitos atores famosos, Baker consegue mais uma vez desenvolver enredos com protagonistas baseados em pessoas que são raramente vistas no cinema. Da mesma maneira, Brooklynn Prince e Bria Vinaite mostram que, mesmo não sendo renomadas no meio (ou experientes), conseguem se igualar com atores já conhecidos, mostrando o talento que ainda pode ser encontrado em meios alternativos e independentes.

Talvez não tão original como Tangerine no modo de usar as câmeras, Projeto Flórida mostra mais uma vez o estilo desapegado de Baker, que não se apoia em close-ups ou outras estratégias tradicionais para gerar emoção em seus filmes.

Projeto Flórida pode ser difícil de entreter. Mesmo assim, Baker mostra com eficácia a vida de crianças que lutam contra tudo e todos para poder imaginar seu mundo de fantasia.