Não é sempre que o horror inglês se faz presente, especialmente usando locações e criaturas baseadas em mitos nórdicos. Mas é exatamente isto que O Ritual traz, em uma produção de horror dirigida por David Bruckner, escrita por Joe Barton e baseada no livro de mesmo nome de Adam Nevill.
O longa começa como muitos filmes de horror, mas logo se destaca por detalhes não muito comuns neste gênero. No começo da história, os grandes amigos Luke, Phil, Hutch, Dom e Robert, tomam cerveja em um bar e tentam decidir onde irão para se divertir. As escolhas são diversas, como passear em Amsterdam ou acampar em uma área florestal e remota da Suécia.
Antes de escolher, porém, os amigos se separam e dois deles, Luke (Rafe Spall) e Robert (Paul Reid), entram em um pequeno mercado para comprar bebida. E é então que um assaltante mata Robert por este não dar sua aliança de casamento. Luke, sem saber o que fazer, se esconde o tempo inteiro e isto o faz sentir muito culpado, mesmo meses depois.
Os amigos, então, decidem ir para a área inóspita da Suécia, pois este era o lugar que seu amigo falecido tinha desejado conhecer. Florestas são locações perfeitas para o gênero, com os mistérios não somente da natureza, mas também vindos de histórias antigas e místicas. Sucessos como o do filme A Bruxa de Blair se apoiam nestes aspectos, especialmente quando os cineastas não deixam o vilão do filme aparecer, criando tanto expectativa quanto medo na plateia.
Filmes deste gênero lidam tanto com protagonistas que descobrem horrores cometidos no passado como com protagonistas que têm algum tipo de problema, geralmente envolvendo culpa, mas que não conseguem resolve-los. O Ritual faz parte deste último. Porém, diferentemente da estratégia narrativa geralmente usada por grandes diretores do gênero, que revelam este problema ou culpa no decorrer do longa, esta produção traz isto logo no começo.
O resultado é que já sabemos qual é o tema logo de início. Em um gênero que precisa de suspense para dar certo, deixar o público sabendo mais do que os personagens é uma estratégia bastante arriscada. Para ser eficaz, então, O Ritual precisa que suas cenas de horror compensem a falta de suspense no enredo.
O Ritual começa bem, não somente mostrando paisagens nórdicas raramente vistas no cinema, como também estranhos acontecimentos arrepiantes que dão à plateia uma ideia do que está por vir. Árvores retorcidas e raízes com formas humanas lembram até o tipo de presságio que ficou famoso em A Bruxa de Blair.
Porém, as semelhanças acabam por aí. Talvez o problema que mais se destaca é que, de repente, O Ritual usa estilos que não faziam parte do filme minutos antes. Assim, o personagem principal é transportado em seus sonhos para o mercado onde seu amigo foi assassinado, algo que não combina muito bem com o suspense de uma floresta. Mas o aspecto mais negativo de tal narrativa é que, mais uma vez, o longa começa a mostrar demais o que deveria ter deixado em suspense.
O mesmo ocorre quando o vilão do filme aparece. Um semideus nórdico que aparece demais, dando menos medo do que produções onde os seres maléficos permanecem nas sombras. Para deixar o enredo ainda mais complicado, um mistério permanece durante toda a história: se o personagem realmente cresceu, ou ao menos aprendeu algo em relação ao seu sentimento de culpa.