É difícil não comparar Black Mirror, devido ao seu sucesso estrondoso, ao novo seriado Philip K. Dick’s Electric Dreams, baseado nas obras de Philip K. Dick, e que trata de temas parecidos. Porém, logo de início, fica claro que os dois são bem diferentes no modo como fazem o espectador pensar sobre o mundo e suas vidas.
Electric Dreams, já no primeiro episódio, chamado “Real Life“, ou “Vida Real,” mostra sua diferença por ter em seu elenco atores famosos como Anna Paquin e Terrence Howard (até mesmo o veterano Steve Buscemi aparece em episódios seguintes). Assim que reconhecemos os atores, a realidade nua e crua, que é eficazmente captada em Black Mirror, fica um pouco mais fantasiosa.
Este aspecto não é negativo nem positivo, apenas diferente. Os gêneros de ficção científica e fantasia são muito próximos e muitas vezes filmes são classificados como os dois para evitar erro. Porém, são diferentes. O gênero de ficção científica, também chamado de Sci-Fi, sempre lida com o modo que a ciência e a tecnologia afetam a vida dos seres humanos. Somos transportados geralmente a um mundo futuro onde temos que aprender, observando a forma como os personagens lidam com a vida neste cenário.
Já a fantasia nos transporta a um mundo de sonhos, ou pesadelos, e que não precisa necessariamente conter tecnologias avançadas. Quando somos transportados a esta nova realidade, a questão não é aprender novas tecnologias em uma vida alternativa, mas sim ingressar em um mundo de aventura e surpresas que nos fazem sentir como heróis (é por isto que Star Wars é considerado mais um filme de fantasia do que de ficção científica – até mesmo a tecnologia avançada no universo se junta com a magia da força).
Enquanto Black Mirror é claramente uma obra de Sci-Fi, Philip K. Dick’s Electric Dreams parece incorporar a fantasia, sendo um misto dos dois gêneros. O episódio “Real Life” mostra, logo no começo, a protagonista Sarah (Anna Paquin) andando por uma cidade já incrivelmente conquistada por carros voadores e arquitetura futurística. Não temos tempo de parar para pensar sobre o local e entender a tecnologia. Só podemos ingressar no mundo alternativo e esperar pela aventura a seguir. Até mesmo a fotografia e estilo de música contribuem para isso, sendo familiar a subgêneros já conhecidos no cinema, como o de detetive.
Mesmo assim, há pontos muito parecidos com vários episódios de Black Mirror. Por exemplo, Sarah é transportada para uma aparente realidade virtual em que se torna uma outra pessoa, com a tentativa de melhorar seu ânimo. Porém, este outro personagem que Sarah se torna, George (Terrence Howard), é tão autêntico que fica difícil saber qual é a realidade. Ou seja, não se sabe qual personagem realmente existe.
Ao invés de nos perguntarmos sobre o efeito desta tecnologia no mundo e como iriamos lidar com isto se estivéssemos no lugar da protagonista, levamos nossa atenção a desvendar os segredos desta aventura passada por Sarah. No final do episódio, considerações sobre a psicologia do ser humano aparecem, dando ao seriado também uma doze de ficção científica. Assim, Philip K. Dick’s Electric Dreams é como assistir Black Mirror com uma dose de fantasia.