E aqui chegamos mais uma vez na época em que um dos personagens mais famosos dos seriados de ficção científica morre e se regenera em um corpo diferente. Embora o Doutor, de Doctor Who, seja um personagem muito interessante, cômico e inteligente e embora seu universo seja empolgante e misterioso, o que deu a série tantas temporadas foi o poder de regeneração do Doutor.
Vindo do planeta Gallifrey e sendo um “Time Lord” (Senhor do Tempo), este poder de regeneração na hora da morte possibilitou que os produtores trocassem de ator quando este queria se aposentar ou quando achassem que o seriado precisava tomar uma direção diferente. Embora isto pareça um truque simples para se livrar do ator (ora, vemos isso acontecer até mesmo com a Tia Vivian, de Fresh Prince of Bell Air, que muda de atriz como se nada tivesse acontecido), o aspecto Sci-Fi fez com que o truque desse bastante certo.
Assim, o acontecimento é esperado ou temido, dependendo do nosso apego ao ator. Enquanto tal característica é presente desde a primeira temporada da série, que começa em 1963, só atualmente os episódios são construídos com base neste poder de regeneração. Anteriormente, a morte do Doutor era mais repentina e um pouco menos sentimental. Enquanto para o público poderia ser uma surpresa, o Doutor não pensava muito em sua morte pois tinha a confiança de que iria simplesmente voltar em um outro corpo. Em 2008, com o produtor e escritor Steven Moffa e com o ator David Tennant (conhecido como o Doutor mais sentimental de Doctor Who), este quadro se modifica e o Doutor pela primeira vez diz que, mesmo com sua imortalidade, sua regeneração é sentida como morte.
E esta revelação é mantida até hoje. E com o especial de Natal não é diferente e traz a despedida de Peter Capaldi como o 12o Doutor que tenta evitar passar pela regeneração inevitável. Para ajudá-lo na aceitação de seu destino, ele encontra a primeira versão do Doutor (que foi por si só interpretado por três atores diferentes). Como cada Doutor tem um estilo e uma visão de mundo diferente, mesmo sendo a mesma pessoa, o episódio se torna engraçado e mostra como a sociedade mudou ao longo do tempo. Por exemplo, o primeiro Doutor, agora interpretado por David Bradley, acha a decoração da atual Tardis (a máquina do tempo do Doutor) exagerada, critica as ações e as ferramentas de Capaldi e trata a amiga do 12o Doutor, Bill Potts, como uma criança, coisas que Capaldi tenta desesperadamente esquecer. O efeito, porém, é cômico.
O episódio tem seus problemas. Bill Potts morreu e viveu tantas vezes que fica difícil de lidar com sua constante aparição. O fato de já sabermos que o Doutor irá se regenerar no final faz monótona a espera pelo acontecimento. O primeiro Doutor, enquanto engraçado, não nos proporciona um entendimento maior da sua personalidade e não desenvolve o enredo geral de Doctor Who. Há, no entanto, cenas emocionais e empolgantes, como a arte da música natalina vencendo uma guerra, a difícil escolha filosófica entre a memória e a existência, e ainda o 13o Doutor caindo de seu Tardis no final do episódio. Mesmo assim, o episódio poderia ser mais cativante se este fosse menos sobre a regeneração do Doutor, e mais sobre como ele salva seus amigos e o universo.