Filmes para crianças, especialmente animações, geralmente vêm acompanhados por três características. Primeiro, há sempre um tom cômico, mesmo quando este é seguido por cenas dramáticas. A comédia é tanto física quanto oral, usando muitas vezes objetos e falas comuns na cultura popular de modo engraçado. Muitas das piadas podem até ser dirigidas também ao público adulto, que em geral assiste junto das crianças. Porém, estas são veladas e mais sutis.
A segunda característica é uma moral, que ensina as crianças no final do filme sobre algo nobre e altruísta. Ou ainda algo que, se aprenderem ainda quando criança, pode ajudar sua vida futura. Esta moral pode ser ligada à importância da família, dos amigos, de acreditar em si mesmo, etc.
E, por fim, a terceira característica, é a aventura. Produções infantis geralmente levam o personagem a universos diferentes. Eles se deslumbram com um novo mundo assim como as crianças estão começando a entender como o meio que vivem funciona. Isto também ajuda na comédia, já que este mundo possui diversas características daquele em que vivem. Mais importante, isto possibilita ao público uma nova maneira de olhar para problemas reais indiretamente e por ângulos diferentes.
Embora estas três características não precisem estar presentes em todos os filmes infantis, a fraca presença destas parece ser o maior problema da nova produção dos estúdios Aardman, O Homem das Cavernas, dirigido por Nick Park.
O estúdio, que tem Wallace & Gromit e A Fuga das Galinhas como obras de sucesso, é bastante conhecido no meio do stop motion (aquele tipo de animação que usa bonecos de verdade que são animados frame por frame). Os roteiros do Aardman são sempre interessantes e criativos, trazendo humor inglês para cenas inusitadas. Porém, O Homem das Cavernas não parece ter a força dos filmes anteriores.
O longa começa mostrando homens da caverna descobrindo o prazer de se jogar futebol. Centenas de anos depois, Dug, um garoto da caverna, sofre por não entender a lógica de sua tribo, que não somente caça animais muito pequenos para sobreviver, mas também completamente se esqueceu do esporte que seus antepassados descobriram.
Porém, quando homens da era do bronze tentam conquistar seu espaço, ele aposta a liberdade de seu grupo em um jogo de futebol. Se ganhar, o vilão Lord Nooth terá que deixar sua tribo em paz.
A comédia, primeira característica do filme infantil, está garantida em O Homem das Cavernas. Homens da caverna falam com humor inglês e jogam futebol contra uma sociedade mais avançada. Como isto não seria engraçado?
Porém, a moral do filme deixa tudo um pouco confuso. Sim, entendemos que Dug ensina sua família, e depois é apoiado por ela a pensar diferente quando deposita tudo o que tem no jogo de futebol. Mas é um pouco difícil relacionar esta moral com algo presente na realidade das crianças. No meio do jogo, uma segunda moral aparece, que é a importância de se acreditar em si mesmo. Porém, Dug somente duvida de si por poucos minutos, não deixando este aspecto forte.
Até mesmo a aventura parece um pouco fraca. Mesmo indo para um novo mundo, o mundo dos homens da era de bronze, e descobrindo que seus antepassados praticamente descobriram o futebol, Dug logo se adapta ao local e a esta descoberta. As cenas de breves descobertas não dão tempo da plateia se deslumbrar juntamente com o personagem principal.
O que fica é apenas a comédia.