Bullying, algo que décadas atrás não tinha espaço na mídia, agora aparece em diversas obras que vão desde comerciais até filmes. 13 Reasons Why, nova série do Netflix que estreou no dia 31 de março, não é diferente e traz consigo uma tentativa a mais de entender e superar este problema.
13 Reasons Why conta a história de Hannah Baker, uma adolescente do colegial que comete suicídio por ser caçoada e sofrer assédio na escola. Porém, momentos antes de tirar sua vida, Hannah decide gravar em fitas cassetes as treze razões que a levaram a tomar esta drástica decisão. As fitas são então distribuídas em segredo para as treze pessoas que tornaram a vida dela insuportável. Uma destas pessoas é Clay Jensen, um adolescente que era apaixonado platônicamente pela garota. E é aí que está o apelo e o conflito do seriado: tanto Clay quanto o espectador querem entender qual o papel que o jovem tem nessa decisão da menina a qual gostava.
Embora o seriado tenha sido baseado no livro homônimo do autor Jay Asher, a Netflix tem sido fortemente aplaudida por melhorar a obra. Por exemplo, Clay demora mais para ouvir as fitas de sua amada no seriado, aumentando a complexidade de um personagem que teria dificuldade em lidar com a situação. Outros personagens, como os próprios bullies, tem problemas pessoais mais desenvolvidos do que se vê no livro. Porém, a mudança mais feliz e apropriada é que, diferentemente do livro que conta somente com os modos mais tradicionais de bullying, a série atualiza os problemas enfrentados pelas crianças de hoje, colocando em evidência o abuso online.
Desde pensadores a personalidades do entretenimento já haviam comentado sobre problemas trazidos pelas novas tecnologias. O famoso diretor Steven Spielberg, por exemplo, disse que enquanto a tecnologia pode ser a nossa melhor amiga, pode também interromper nossa história e habilidade de sonhar acordado, porque estamos sempre checando mensagens no celular. Se mensagens neutras são o suficiente para interromper uma história, pode ser difícil de compreender o que crianças que sofrem abuso pela internet devem sentir. E essa é a história de Hannah, uma menina que não somente tem dificuldade em achar amigos verdadeiros, mas é lembrada constantemente de seus problemas sociais por meio da internet. Assim, sua inabilidade de esquecer sua condição triste é o que a derrota.
O criativo e dolorido enfoque que 13 Reasons Why dá ao bullying não significa que a série não tenha problemas. As fitas cassetes de Hannah revelam uma garota forte e charmosa, muitas vezes fazendo parecer com que a decisão de cometer suicídio foi um corajoso ato. Mesmo assim, durante a temporada, sua voz se torna mais fraca e o ato mais triste. Porém, e mais importante, é o modo com que Clay lida com o acontecimento. Ao invés de ouvir seus amigos e colegas, que tentam lidar com o evento de forma indireta, Clay convida todos, os inocentes e os culpados, a se verem como parte do problema a ser corrigido. Em um poderoso e triste seriado, a Netflix mostra que todos têm um papel na construção de um mundo melhor.
Conheça também a campanha do cineasta: Mais Entretenimento, Menos Bullying.