Pai em dose dupla 2 segue as características provenientes da dificuldade de dar continuidade a uma comédia, não importa o quão bem-sucedida. Comédia em qualquer filme sempre foi, e precisa ser irreverente. Para isto, todas as normas de uma sociedade são colocadas de cabeça para baixo, zombadas e ignoradas, até que no final a irreverência se acalma com um final feliz, onde todos, de uma forma ou de outra, conseguem aquilo que procuravam.
Estas “normas” são muitas vezes incluídas em personagens sérios e que assumem um importante cargo na sociedade. Por exemplo, na comédia Entrando Numa Fria (2002), Greg, interpretado por Ben Stiller, encontra pela primeira vez com a família de sua namorada. O patriarca da família, Jack, interpretado por Robert De Niro, não somente personifica as regras mais duras da sociedade por ser um pai incrivelmente duro e exigente, mas também por ser agente do governo. O fato de Greg ser o oposto de Jack, sendo mais maleável e desesperado por agradar o futuro sogro, é o que dá graça à comédia. No final, o intuito é que os dois encontrem um caminho onde os dois possam viver felizes.
Esta característica, porém, faz com que a sequência de uma comédia sempre seja um pouco estranha, um pouco exagerada. Afinal, se os opostos (como Jack e Greg) conseguem aceitar suas diferenças e viver felizes, qual a graça de ter uma continuação? O único modo então é exagerar e criar personagens ainda mais irreverentes ou sérios, muitas vezes sendo difícil de acreditar. O sucesso de tal sequência, desta maneira, é difícil de prever.
Pai em dose dupla 2 não é diferente. O primeiro filme, de 2015, conta a história de Brad, (Will Ferrell) um sujeito desajeitado, mas que tem boas intenções e quer agradar os filhos de Linda, sua nova mulher. Sua intenção é de formar uma boa família e fazer com que as crianças o amem como um pai. Porém, seu oposto, o pai biológico das crianças, Dusty (Mark Wahlberg), que parece uma estrela do rock, coloca um grande obstáculo nos objetivos de Brad. Assim, os dois competem para ver quem é o melhor pai, numa hilariante comédia onde a norma da família tradicional é o que vira de ponta cabeça. No final, o amor pelos filhos une os dois, que aprendem a viver um com o outro.
E daí vem a pergunta: se o conflito acabou, como dar continuação a este filme? E a resposta é sempre mais personagens e mais exageros. Isto não traz muito problema para o filme, já que as produções de Will Farrell tendem a ser exageradas. Os novos personagens, que são os pais de ambos os personagens principais, são os dois novos opostos que precisam aprender a viver juntos e passar o natal com as crianças. Estes são interpretados por Mel Gibson e John Lithgow, uma escolha de elenco muito bem-sucedida já que os dois não poderiam ser mais diferentes.
Mesmo assim, o problema do exagero ainda existe. Por exemplo, embora o filme pareça, por um momento, ser dirigido para a família em geral, piadas mais picantes mostram que seu público real são adultos. Além disso, se no primeiro filme os dois pais conseguem se complementar no final, dando às crianças uma boa (embora inusitada) educação, aqui o exagero não deixa isto tão claro. De fato, enquanto a primeira produção sempre tinha um dos pais arranjando uma boa solução para os problemas das crianças, aqui parece muitas vezes que os dois estão errados. É difícil então acreditar em uma solução verdadeira para os problemas da família no final, por mais que tudo pareça bem. Mas isto não tira a graça de muitas cenas divertidas e que, mesmo não sendo como o primeiro filme, ainda faz com que Pai em dose dupla 2 seja engraçado.