O cinema nacional parece ter sido dividido em duas vertentes: uma preocupada com a condição social do país e outra ligada ao mercado e a distribuição. Os livros que lidam com a história do cinema no país geralmente se concentram nesta primeira vertente. Porém, o sucesso de distribuição por trás dos filmes nacionais mais populares, em sua maioria, é voltado para o público infanto-juvenil e com uma intenção mercadológica, transformando essas produções nas grandes responsáveis pela evolução técnica do cinema nacional.
A história do cinema nacional começa em 1896, com a exibição de filmes de curta metragem que retratavam cenas do cotidiano de cidades Europeias. Um ano depois, porém, o foco passa ser a produção de filmes, como por exemplo, a exibição de cenas da Baía de Guanabara filmadas pelo italiano Affonso Segretto.
A partir de 1906, os primeiros filmes brasileiros de ficção começam a ser produzidos. De 1906 até 1923, são feitos filmes que vão desde a comedia até o gênero do crime, desde o documentário até filmes baseados em obras literárias. Nesta época, que inclui a chamada “bela época” do cinema brasileiro, os filmes nacionais eram desenvolvidos sem muita pressão do mercado externo, possibilitando que donos de salas de exibição e até mesmo imigrantes italianos contribuíssem com sua visão para o desenvolvimento do cinema nacional.
Embora a presença de Hollywood já fizesse parte do cinema desde os anos 1910, a exibição em massa de seus filmes começa a se fazer presente nos anos 1930. Em meio a um cinema com estrutura muito mais desenvolvida, o cinema brasileiro se utiliza de diversas estratégias. A primeira é a tentativa de criar estilos parecidos, com a produção de musicais românticos ou carnavalescos, como por exemplo Alô, Alô, Brasil, de 1935. A segunda estratégia é a satirizarão de filmes de Hollywood, que se tornam populares nos anos 50 e são chamadas de chanchadas.
No final de 1940, os produtores do cinema brasileiro começam a buscar a qualidade avançada das tecnologias da indústria cinematográfica pelo mundo. Assim, a companhia Vera Cruz é fundada. Infelizmente, embora produzisse filmes de maior qualidade do que as chanchadas, nunca obteve um nível de distribuição eficaz e faliu no final dos anos 50.
Ainda nos anos 50, o cinema brasileiro é fortemente influenciado pelo Neo-realismo italiano, que traz um modo diferenciado de contar histórias. Neste tipo de cinema, a história passa a acontecer mais lentamente e o ambiente usado para as filmagens é o do cotidiano. Assim, a produção fica mais fácil, já que não depende da tecnologia avançada usada por Hollywood. Porém, é também desde então que o cinema nacional fica vinculado com à política.
Desta maneira, surge o cinema novo nos anos 60, com Glauber Rocha, entre outros. Com um conceito de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, e o objetivo da construção de uma “estética da fome”, as histórias são sempre marcadas por alegorias e sempre preocupadas em refletir a cultura do país. Assim, a identificação com personagens fica em segundo plano. No final dos anos 60, a estética da fome dá lugar à “estética do lixo”, defendendo ainda mais um estilo que não usa as formulas desenvolvidas até então para agradar o público.
Com a criação da Embrafilme, o Estado então passa a financiar a produção de filmes, com o objetivo de estimular a produção nacional. E a partir daí, o cinema não somente fica vinculado à política, mas também ao Estado. Assim, o cinema se transforma com cada mudança política, especialmente por que, agora, depende do governo para sua produção.
É apenas a partir dos anos 70 em frente que cineastas tem o objetivo de que o público assista seus filmes, com a tentativa de criar um mercado para estes. Este é também o momento que os filmes mais populares do país começam a surgir, como Dona Flor e seus dois maridos de 1976, de Bruno Barreto, e Os Saltimbancos Trapalhões, de 1981.
Com leis de incentivo que vão desde os anos 90, o cinema nacional então fica dividido entre filmes de cunho político e filmes de puro entretenimento. Embora críticos de cinema geralmente se concentrem nos filmes de cunho político, é o filme de entretenimento que foi o responsável por desenvolver o cinema nacional.
Esses filmes são voltados ao público final, muitos sendo direcionados às crianças e produzidos pela televisão, que sempre foi muito mais desenvolvida no país do que o cinema. Com incentivo privado, as produções brasileiras finalmente começam a trazer técnicas cinematográficas mais desenvolvidas. Até mesmo filmes dos anos 90, como Lua de Cristal da Xuxa, mostram este desenvolvimento. A bela arte do filme Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburger, em 1999, vem com o desenvolvimento dos filmes infantis que eram originalmente títulos de televisão. E é devido ao cuidado com o público que outros filmes mais “sérios” e consagrados, como Cidade de Deus e Tropa de Elite, puderam surgir.
Texto escrito pelo cineasta Daniel Bydlowski para o Portal Metrópolis.